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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ANTONIO FERNANDO DE

FRANCHESCHI

 

 

(Pirassununga SP 1942). Poeta, editor, redator, ensaísta. Aos 8 anos de idade, passa a estudar no colégio Caetano de Campos, na Praça da República, em São Paulo. Em 1964, cursa filosofia na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo - FFLCH/USP. Integra a chamada geração dos novíssimos, de escritores como Roberto Piva (1937) e Claudio Willer (1940), entre outros. De 1980 a 1984, é editor e diretor de redação da revista IstoÉ, e também escreve crítica literária em vários outros periódicos. Integra o conselho de administração da Escola Superior de Propaganda e Marketing - ESPM, de São Paulo, de 1980 até 1990. Lança seu primeiro livro de poemas, Tarde Revelada, em 1985. De 1987 a 1990 faz parte do conselho consultivo da Associação Brasileira de Imprensa - ABI. Participa, em 2000, do documentário Uma Outra Cidade, do diretor Ugo Giorgetti (1942), sobre a São Paulo dos poetas da Geração 60. Desenvolve trabalho administrativo e editorial no Instituto Moreira Salles - IMS, em 1990. Desde então aplica seu interesse por artes plásticas redigindo artigos sobre o assunto. Entre 1993 e 1994 é diretor do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp. É superintendente executivo do IMS, e editor da revista Cadernos de Literatura Brasileira, publicada pelo instituto.

 

 

TEXTOS EM ITALIANO >>>


 

 

TARÂNTULA

         "/.../ cama de campo y campo de batalla /.../
                                                         GÓNGORA

sensória teia te recheia falena
se irrompe distraída pela rama
na fria arquitetura de tua cama

te dobro em ângulo e insustida antena
pois que te sou clausura e não saída
postada porta à fuga interrompida

te habito urdido por um fio helena
tão parca e pouca quando o medo clama
um nada quase para aplacar a trama

e mais entanto te endureço a pena
se cedo afinal à usura desmedida:
quebrar tuas asas sem tirar-te a vida.

 

 

FRANCESCHI, Antonio Fernando deCaminho das águas.  São Paulo> Editora Brasiliense, 1987.  84 p,   14x21 cm.   Col. A.M. 

 

Magna Umbra

 

Abro lento a cortina

assente a poeira

outra é a dor que ilumina:

revejo então os dias idos

e os tomo priscos na memória

e os celebro fatais:

e tanto os temo e quero

que morro se me volto a eles:

mais morro se me não partir

 

 


FRANCESCHI, Antonio Fernando de.  Fractais.   Poemas.   São Paulo: Editora Brasiliense, 1990.  125 p.   23x23 cm.  Capa dura, revestida de tecido negro.   Col. A.M. 

 RASO

escassa margem:
um nada te transporta
sem mistério


FUNDO

nem sempre está
mas é
todos os lados

 

DOCE

te quero
como abelha:
mel


AZEDO

sob os ritos do verão
te soltas
nos travos dos citros.
 

 

FRANCHESCHI, Antonio Fernando de.  Sal.  São Paulo: Companhia das Letras, 1989.   161 p.   12,5x18,5 cm....Projeto gráfico e capa: Hélio de Almeida.  Col. A.M.   

 

TANGENTE

 

agrego incerto território

de mim terra aportável

estuário

 

invisto vontades

rio adentro

sob a parede das veias

 

um ponto um círculo:

eu coadjutor tangente

me descubro e perco

neste continente

 

 

 CONFITEOR

 

sob a moldura

te olho

exúbere

extremo:

eu não dependo de ti

 

um nada fica embora

ambíguo

umbilical

me ligando

à tua sanha

 

sei:

tensas

pretextas farpas

crispadas na dor

sorella

no centro mesmo do amor

 

e sem surpresa

pretérito nos sumos

contemplo o mal ab origine

na tentação:

eu me defendo de ti

 

 

 

 

FRANCHESCHI, Antonio Fernando de.  Sete suítes.  São Paulo: Companhia das Letras, 2010.  86 p.  ISBN 978-85-359-1731-4  Capa: Kiko Farkas/ Máquina Estúdio.   Impresso em papel Pólen Bold.  Col. A.M. 

 

Na febre dos coretos

 

a seco do baú soando vésperas

com perfume de Alhambra e talco Coty

o quarto das amas lembro: Rouge Mirúrgia

noites de sândalo: sandices

pela janela que em voo eu saltava

depois que elas saíam

sob as anáguas sombreiras

roçando o toucador onde esqueciam

manchadas de batom

as prensas de dobrar pestanas:

restos nas partidas disparadas

para a febre dos coretos:

dias de Cashmere Buque

quando a nuvem pó de arroz

punha neve nas conchas caídas dos sutiãs

e no chão o recorte nervoso dos pés

traía meu vaivém:

glória!

entre chumaços de cabelos revoados

pêlos vãos dos bobes

e os grampos que recolhia

eram troféus em efígie

da ambulação domingueira

na praça principal:

ânsia do menino

 

 

Arcano

 

armar a forma 

pelo lado abstraio

sem suporte de linha

ou estrita norma:

exato?

 

traçar ôntico

pelo lado onírico

sem medo do lírico

ou limite de corte:

o norte?

 

###########################################

 

 

O véu volátil

a poesia desespera

às vezes

em guardanapo de papel

ela

que incomoda tudo

tem pressa de chegar:

destrava o obscuro

aclara

esvai-se em gula

e como sal:

solve e coagula

requer-se mais

se alterna: dura

abrindo um véu

que não faz ver

se estua inteira

em espessura

e inesperada

deixa-se tocar: cisma

tisna qualquer olho

trai em desaforo

todos os sentidos

 

 

 

de nada vale amor que mero

ocupa verso e rima: se vero

não poupa: se raro preocupa   '-

amor que vale arde e machuca

 

se é chama volteia como quero

se dura se trai in natura: erro

sei que não sei: amor mor se matura

e da própria substância se satura

 

requer já outro amor que cumpra

prometa mais ventura: pois nunca

mesmo a cumprirá: falho em candura

de amor se cai de suma altura

 

 

 

FRANCESCHI, Antonio  Fernando de.   A Olho Nu.   Poemas.  São Paulo: Companhia das Letras, 1993.  101 p    12,5x18,5 cm.  ISBN 85-7164-309-1  contracapa e capa, Capa e projeto gráfico de Hélio de Almeida.  Ilustrações de autor. “Orelha” por Armando Freitas Filho.  “ Antonio Fernando de Franceschi “  Ex. na bibl. Antonio Miranda

ALGO

 

há algo feito e acabado

que desmente a teoria

algo livre das aduanas

que flota justo e medido

no lírio das cumeeiras

algo subtraído das ganas

que se preserva intocado

algo entre as unhas

pelo tecido lunar

que te desconcerta e redime

algo certo algo errado

como inteiro domicílio

uns restos no copo

e a ressaca que volta

algo que é também soberba

e te ilumina

algo que não pode ser recuperado

por simples razão

teus mitos

como um quarto fechado

algo vertido na lâmina

que por descuido a corrói

algo sem gume nem corte

mas cujo toque te dói

 

 

DESENHO DE OBSERVAÇÃO II

 

se me movo

altero todo um Ver:

ângulos

e o sol batendo nos esquadros:

 

corrijo para quarta

a floração:

risca a pomba um horizonte

e arrisco dizer:

 

olhar requer

o Necessário:

em sumo risco

Ser


DESENHO DE OBSERVAÇÃO X

 

enfim o olhar

afasto da janela

 

nem tudo nela

é novo

 

lá fora o mundo

passa

 

e a fecho

como um ovo:

 

altero todo um Ser

pois que me movo

 

 

 

TEXTOS EM ITALIANO

 

Extraído de

 

POESIA SEMPRE – Revista Semestral de Poesia – Ano 2  Número 4 – Rio de Janeiro Fevereiro 1994 - Fundação Biblioteca Nacional.
ISSN 0104-0626  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

Tarantola (Taràntola)

 

... cama de campo y campo de batalla...

                                               Góngora

 

 

sensoria tela ti cattura falena
se irrompi distratta dal fogliame
nella fredda architettura del tuo letto

 

ti piego ad angolo la fragile antenna
perché clausura ti sono e non uscita
porta ben ferma all'interrotta fuga

 

ti abito ordito da un filo Ellèna

così parca e poca se il timore chiama

un nulla quasi per placar la trama

 

e più dura ti rendo intanto la pena
se cedo infine all'usura infinita:
spezzarti le ali e non toglierti la vita.

 

 

Traduzione de Márcia Theóphilo

 

 

 

Ricercare ("Ricercare")

 

 

ad ogni onda
ripetutamente
resiste al mare
la pietra
al mare

che nelle sue tempeste

le rapisce

tanto piccola parte

ma nel suo modo

sempre infinito

e rinnovato

che dopo ère

di interezza

la dura roccia

cede

e così torna

disfatta infine,

alla sua bianca polvere

che è sabbia

 

 

         Traduzione de Màrcia Theóphilo

 

 

Página ampliada e republicada em dezembro de 2017

 

 

 
 
 
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